quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Refletindo sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente

Passo os olhos pela primeira página de um jornal e não posso refutar o pensamento: algo precisa mudar em nossa sociedade!
O que vemos ali é um mundo que grita o desalinho, com um destaque especial à violência. Mas o que leva tantos jovens a se enveredarem pelo caminho das drogas, do roubo, da violência contra si mesmo e contra os outros? O que gritam nossos meninos?
Quem não sonha com um mundo melhor?... E o questionamento insiste em minha mente: “que passos temos dado, de forma efetiva, em favor disso?”
Depois, penso na escola. Na realidade que tenho observado em sala de aula: quarenta adolescentes em plena ebulição de energia, com muitos questionamentos, interesses (e desinteresses!), instigados todo o tempo por uma chuva de informações que os envolve de maneira avassaladora, convivendo em tempo real com um mundo em pleno desenvolvimento e em que novos paradigmas se apresentam: na família, no trabalho, no estudo, nas relações sociais. Confirmo então que a educação tem uma boa parcela de contribuição a dar em relação a tudo isso.
O Estatuto da Criança e do Adolescente contempla e quer assegurar à criança e ao adolescente o direito de serem o que são, de viverem o seu tempo. Como educadores queremos garantir a todos o direito ao conhecimento, ao aprendizado, ao crescimento em sabedoria e estatura de forma sadia.
D. Paulo Evaristo Arns, em seu livro “Da esperança à utopia”, escreve:
A sabedoria não nasce espontaneamente. Ela vai crescendo como uma planta, e muitas vezes se transforma em árvore frutífera de grande utilidade para o ser humano e para os que se relacionam com ele.
Seu pensamento tem a ver com o que podemos realizar quando encaramos a educação como a oportunidade de construir um mundo sempre novo, onde haja igualdade e se formem cidadãos com plenas condições de viver e assumir seus direitos e deveres. É certo que não cabe só a ela, mas é verdade que pode ser auxilio, inclusive também a que cada um assuma de fato o seu papel na formação dos indivíduos. O Estatuto nos lembra aquilo que nos parece óbvio:
“é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público, assegura absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, a saúde, a alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, a profissionalização, a cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e convivência familiar e comunitária” (Brasil, 1988, p.41)
No que tange à educação, objeto do nosso estudo, a experiência de estágio é, em primeiro lugar, a oportunidade de lançar um olhar observador sobre aqueles que estão envolvidos na educação. Se me pego pensando que o que o Estatuto escreve é aquilo que deveria ser o nosso pensamento natural, o dia a dia da sala de aula me mostra que é preciso a lei e mais que ela, para fazer acontecer aquilo que é necessário para que estes pequenos possam crescer.
De um lado está a instituição, que, de alguma forma precisa lidar com a realidade, sem máscaras, realizando de fato aquilo a que se propõe com fidelidade. Muitas vezes a teoria é uma e a prática se mostra inconsistente.
De outro, o educador, que precisa ser atendido em suas necessidades para que possa não só por em prática o que aprendeu, mas que tenha condições de continuar buscando a capacitação necessária, sendo motivado a compartilhar com prazer o seu conhecimento e realizar-se enquanto profissional, e que, mais que isso, seja um sujeito capaz de enxergar além, para atingir o objetivo da sua ação: levar o educando a atingir o conhecimento. E a experiência mostra que isso exige muito mais que conhecimento específico da disciplina.
No texto “O Estatuto da Criança e do Adolescente: um instrumento legal do professor de educação física”, Müller e Martineli (2005, p. 21, 22) fazem a seguinte afirmação:
Já vimos que há uma responsabilidade legal, e seguramente há outra de natureza moral, que diante do abuso, do abandono e da exploração das pessoas leva a que nos indignemos e lutemos em favor de um mundo melhor para todos. Existe ainda um outro aspecto, que não sabemos bem como classificar, tem a ver com um jeito de estar no mundo, e é de extrema necessidade. Talvez pareça ingênuo e fora de hora, mas ousamos dizer que precisamos, o mundo precisa de suavidade, de ternura, de bom humor, de alegria, de simplicidade, de profundidade, de sempre aprender, de abraço, de olhar nos olhos, de consistência, de criar, de querer ser feliz, de choro por coisas bonitas, de implicação individual e coletiva, de tempo... Estamos convencidos de que quando atuamos no campo da infância e da adolescência faz uma diferença substancial se o fazemos enredados com a sensibilidade, com o conhecimento, com a convicção, com o compromisso e com a esperança.
É certo que a educação exige de todos os envolvidos um alto grau de sensibilidade e uma boa dose de docilidade para se deixar ser ensinado pelas situações que estão a sua volta.
Tudo o que vivemos em família vamos reproduzindo consciente ou inconscientemente pela vida. Muitos dos nossos conceitos são equivocados. Não podemos ignorar que nossos alunos trazem isso para dentro da escola.
Em outro aspecto, precisamos trabalhar com a diferença, com a individualidade - o ser “único”, e isso exige do educador além da formação, uma sensibilidade aguçada para alcançar o que se é e a maneira particular de cada um construir o conhecimento, colaborando para que isso aconteça. De outra forma, o trabalho será em vão. Aulas dinâmicas, bem preparadas, com a maior participação dos alunos, que possam se aproximar e responder aos seus anseios e questionamentos, se torna objetivo obrigatório para cada um de nós.
É preciso ter domínio do que se ensina, mas é preciso essencialmente, acreditar no que se faz e por que faz, para que o outro também creia e acolha.
Não existe outro caminho capaz de mudar uma sociedade que não passe pela educação. Mas é preciso que ela esteja mais que consciente do seu papel: é preciso que realize de fato aquilo a que veio, usando de maneira inteligente e comprometida as armas que possui. Todos juntos, construindo uma sociedade melhor.